quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

What the fuck are you singing?

Essa semana uma simples postagem no Facebook enfureceu os brasileiros fãs de heavy metal.

Tudo começou quando a banda paraibana The Noyzy enviou para o produtor musical Jack Endino (conhecido por ter trabalhado com Nirvana, Sonic Youth, entre outras) um EP, com o intuito de saber a opinião do produtor e negociar com o mesmo a produção do primeiro álbum de estúdio da banda. Pouco tempo depois Jack Endino respondeu que o som era muito interessante, mas não conseguia entender uma palavra do que o vocalista cantava.

Algumas horas mais tarde Jack Endino postou em seu facebook, “Bandas brasileiras!!! POR QUE VOCÊS ESTÃO CANTANDO EM INGLÊS? EU NUNCA CONSIGO ENTENDER UMA PALAVRA! Qual o sentido disso? Nunca vai dar o sucesso a vocês fora do Brasil e eu não vejo como isso pode ser um sucesso DENTRO do Brasil. Sim, eu sei que Sepultura fez isso, mas o inglês deles é excelente, as letras deles boas e eles faziam parte de uma gravadora internacional de Metal. Quem mais conseguiu isso? Eu estou perplexo e intrigado com isso”. Poucas horas depois o comentário de Endino tinha mais de 250 respostas, algumas poucas apoiando sua opinião, e muitos descendo a lenha no produtor, e ainda muitos outros de forma mais educada mostravam outras bandas brasileiras com sucesso no mundo cantando em inglês.

Sepultura atualmente. Vale lembrar que o antigo vocal Max Cavalera sempre teve uma pronúncia ótima e desde que saiu da banda em 1997 mora nos Estados Unidos. E também vale lembrar que o vocal atual Derrick Green é natural dos EUA.

Ao ler o comentário de Endino eu imediatamente lembrei-me de uma reflexão de Renato Russo há 15 anos, “... Se for pra cantar em inglês, que cantem 'assim' e não naquele inglês horroroso... Mas o Sepultura é muito bom”. Ou seja, é praticamente o mesmo comentário rs.

Fui ouvir o EP da The Noysy e definitivamente, o inglês dos caras não é dos melhores. Porém é um erro dizer que o Sepultura é a única banda brasileira que conseguiu mercado fora do Brasil devido o inglês. O Sepultura é um fenômeno sem comparações, tornou se não apenas a banda de rock ou metal, mas o grupo musical brasileiro mais conhecido no mundo. Todavia, bandas como Angra, Krisiun e Torture Squad possuem grandes bases de fãs em muitos países da Europa, assim como a Shadowside está seguindo os passos do Sepultura e conseguindo um mercado muito grande nos EUA. Isso sem falar de bandas como Korzus, Hibria, dentre outras que comumente estão fazendo turnês fora do Brasil.

Finntroll, banda finlandesa de Folk Metal que canta em finlandês e que que está entre as principais do estilo.

Outro erro é o cara pegar no pé das bandas brasileiras. O Heavy Metal se estabeleceu como um estilo musical cantado universalmente em inglês. Hoje em dia, além dos tradicionais centros do metal (Inglaterra, EUA e Alemanha) temos como países centrais no estilo Finlândia, Suécia e Noruega.
Então você vê que as principais bandas da Alemanha (Scorpions, Accept, Blind Guardian, Helloween, Gamma Ray, Destruction, Grave Digger, Sodom, entre outras), as principais bandas suecas (Opeth, In Flames, Dark Tranquility, Evergrey, SoilWork, Amon Amarth, Arch Enemy, Therion, Meshuggah, entre outras) e as principais bandas finlandesas (Nightwish, Stratovarius, Sonata Arctica, Children of Bodom, Apocalyptica, Sentenced, entre outras) cantam em inglês. Salvo algumas raras exceções como os finlandeses do Korplikaani e os alemães do Rammstein que cantam em seus idiomas e fazem sucesso, e a Noruega que lá sim, as bandas em sua grande maioria cantam em norueguês mesmo. Mas isso é papo para outra postagem.

As bandas norueguesas de Black Metal são um caso diferente. Cantam em seu próprio idioma e fazem sucesso por toda a Europa e também pelas Américas.

De facto não dá para você tentar cantar num idioma que você não domine, por mais que o seu instrumental seja magnífico, e é muito comum ouvir bandas cantando com um inglês bem ruim. Estas bandas everiam repensar seriamente em algumas coisas. Mas não dá para falar que só tem o Sepultura no Brasil e nem crucificar o país, pois o heavy metal tem o inglês como sua língua principal, quase em todos os países deste planeta.

Mas e vocês, acham que as bandas deveriam apostar mais no português?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Bandas cover - Uma praga que se alastra

Faz algum tempo que venho me incomodando muito com o atual cenário de shows que encontro em São Paulo, tanto na capital, como onde moro, em Sorocaba que fica a 90 km da capital.

Chega um final de semana e fico a pensar um lugar bacana para ir, onde rolasse um rock de qualidade. Então me deparo com uma tragédia que assola São Paulo nos últimos anos... Para todo lugar que penso em ir está rolando um show cover. Nada mais frustrante!

Não tenho nada contra bandas cover (mas nada a favor também), pois é comum uma banda começar tocando cover e depois partir para suas composições próprias. Mas bandas que se limitam a tornarem se profissionais em imitar os outros, os chamados “covers oficias” é o que há de mais tosco no cenário musical,  me desculpe o pessoal que integra essas bandas, mas é verdade.

Hibria, um dos nomes mais fortes no Brasil recentemente, foi a primeira banda brasileira a fazer uma turê pela China.

Se você vai levar uma conversa com os organizadores e donos de casas de show, eles sempre dizem que dão ao público o que o público quer. Banda cover é o que dá público, portanto dá dinheiro e é por isso que eles contratam mais bandas cover do que bandas autorais. Realizam-se shows de bandas de som próprio e o público não comparece. Puta que o pariu, se eu quisesse ouvir Iron Maiden eu ficaria em casa ouvindo o original com a ótima qualidade de som de um álbum de estúdio em meu magnífico aparelho de som, ao invés de ver uma imitação em uma casa de show com uma aparelhagem sonora razoável.

Tierramystica, um dos destaques do país nos últimos anos com seu Folk Metal unindo a música pesada com a música de raiz latino americana.

Sobre bandas autorais eu frequentemente ouço, “ah, mas eu não conheço a banda, por isso não vou”. Está certo, mas ir ao show de uma banda é a melhor maneira de se conhecer o som dos caras. Temos de lembrar que a internet é algo recente, antigamente as pessoas precisavam levantar suas bundas gordas da cadeira e ir aos shows para conhecer bandas. Não existia youtube e sites de compartilhamento para você ficar o dia todo baixando álbuns que seriam porcamente ouvidos de tanta informação jogada na sua cabeça.

Com a valorização de bandas cover por parte do público e de organizadores há também um genocídio de compositores. E o que mais irrita nisso tudo é que o cenário underground brasileiro do heavy metal não é fraco com muitas bandas ruins, muito pelo contrário, é considerado como uma das principais cenas undergrounds do estilo em todo o mundo. Em meados dos anos 90 Brasil, Finlândia e Suécia eram apontados como os próximos países a entrarem na elite do heavy metal, o que hoje é fato, exceto com o Brasil que é tido até hoje por muitos como a mais forte cena underground no mundo.

Caravellus, metal progressivo de primeira qualidade.

Renomadas bandas como Angra e Sepultura sempre atraem grandes públicos, mas é só. Todas as outras precisam lutar entre as bandas cover para conseguir onde tocar. Me despeço tentando encontrar algum local nessa cidade onde a geração cover não tenha se impregnado.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eluveitie - Ressuscitando a cultura galega

Caros colegas, hoje trago uma dica de banda aos amantes da música pesada.
A banda em questão é proveniente da Suiça e se chama Eluveitie, uma banda normalmente rotulada como Folk Metal fazendo a mistura da música de raiz Celta com o Death Metal Melódico.

Eluveitie significa "O Helvécio" na extinta língua galega, sendo que o povo dos Helvécios era uma das muitas tribos Celtas e se localizavam no que hoje é a Suiça e também o sul da Alemanha. Um dos fatos marcantes na banda é que há muitas músicas cantadas em Gaulês que era a língua falada pelos Celtas que moravam na Gália (que consistia todo o territorio francês e partes da Bélgica, Alemanha e Itália) antes de serem dominados pelo Império Romano. O idioma foi extinto no século VI, mas nos últimos anos muitos arqueólogos tem descoberto vestígios do idioma em manuscritos, rochas, antigos artefatos etc.
A banda Eluveitie tem acompanhado isso de perto e algumas de suas músicas são versões musicadas de textos gauleses super antigos, assim como quase todas as músicas da banda estão conectadas à história e literatura dos Helvécios. O mais recente álbum da banda tem todas as suas letras baseadas no "Commentari de Bello Gallico" (Comentários sobre a Guerra Gálica) escrito pelo imperador romano Júlio César, porém aqui a banda dá os comentários do ponto de vista dos gauleses.

Portanto o Eluveitie não é apenas mais uma banda de folk metal que mescla heavy metal com a música celta, os caras realmente são fissurados pelas raízes de seu povo. A banda é composta por oito integrantes tendo Ivo Henzi e Siméon Koch nas guitarras, Merlin Sutter na bateria, Kay Brem no baixo, Meri Tadic no violino e vocal,  Anna Murphy no Hurdy Gurdy e vocal, Pade Kistler na gaita de fole e flauta e Chrigel Glanzmann na mandola, flauta, bodhrán e vocal.
A banda usa de vários instrumentos típicos como o Hurdy Gurdy para criar a atmosfera celta de suas músicas, mas sem nunca deixar o heavy metal de lado. Alguns exemplos de músicas abaixo.


Curiosidade: Inis Mona era o nome céltico da ilha hoje chamada "Isle of Anglesey" no norte do País de Gales. Em Inis Mona havia se estabelecido o maior colégio para Druidas já criado pelos celtas e por isso atraia os jovens celtas de todas as tribos espalhadas pela Europa. A formação de um Druida na ilha poderia chegar a até 20 anos.


Curiosidade: Omnos (que significa "medo") é toda cantada em Gaulês.


Curiosidade: Epona era uma especie de deusa da fertilidade na religião pagã dos galegos e protegia os cavalos, burros, éguas, mulas e etc.